quinta-feira, 26 de julho de 2012

Artem, 5 anos

Portugal/Moldávia/Ucrânia


Na teoria ARTEM não veio à procura de uma vida melhor. Aos 5 anos sabe lá o que é isso. Mas na prática a sua procura é a mesma de todos, encontrar os melhores amigos para as brincadeiras e as condições dignas para que isso possa acontecer. Ou seja, a sua busca é semelhante à dos adultos: procurar uma vida digna sem o peso de procurar uma vida digna. Essa preocupação está do lado do pai, George, moldavo, e da mãe, ucraniana. E não está fácil. Ele trabalhava na construção civil e ela em contabilidade. Hoje estão no desemprego. Para além das dificuldades naturais de quem acaba de chegar a um país novo, confrontaram-se com uma segunda dificuldade: a crise. Mas não desistem. Ele enceta contactos diários para voltar urgentemente ao activo, enquanto ela se debate com um cancro da mama, fazendo quimioterapia e esperando a reconstrução do peito. Em casa, nem sempre conseguem perspectivar o futuro. Felizmente, para ambos, há Artem. Para ele, o futuro é o presente, lá fora, na rua, brincando, entre amigos.

6 de Junho de 2012 / Vítor Belanciano / foto João Vilhena

Lisboa


Ah! Lisboa! Cidade em trânsito. Híbrida. Em mutação. Hoje as cidades estão repletas de desconhecidos, de origens, classes, cores, opções e estilos de vida diversos, obrigados a viver em contacto entre si. E Lisboa não é diferente.

É a cidade do Sul da Europa, com o Atlântico à porta, que possui ligações mais privilegiadas com Brasil e África, podendo filtrar esse legado, ao mesmo tempo que se abre ao resto da Europa. Durante anos, Portugal parecia dividido entre privilegiar a Europa ou a sua relação com os países de expressão portuguesa.

Hoje percebe-se que será tanto mais capaz de gerar riqueza a todos os níveis – e ser nessa dinâmica, tanto mais europeu – quanto mais afinidades criativas conseguir alimentar com todos esses territórios, sejam europeus, africanos, sul americanos ou orientais. Hoje, olhando à volta, percebe-se que é aí que reside uma das razões da sua peculiaridade, enriquecendo-se com diferenças, linguagens, imaginários e novas experiências.

As urbes mais sedutoras do nosso tempo são as que conseguem ser culturalmente significativas, capazes de integrar a diferença, criativas, expressando singularidade. E Lisboa pode fazê-lo.


11de Junho de 2012 / Vítor Belanciano / fotos de Joshua Benoliel e João Vilhena
LISBOA MESTIÇA de João Vilhena, José Manuel de S. Lopes e Vítor Belanciano